Pinçagem em Shimpaku

Pinçagem profunda em Shimpaku (Juniperus chinensis sargentii)

O objetivo deste artigo é esclarecer um pouco mais sobre a pinçagem no Shimpaku (Juniperus chinensis “sargentii”). Os princípios básicos que serão comentados aqui, poderão servir também para técnicas semelhantes aplicadas em outras coníferas.

Trabalharemos no Shimpaku abaixo, que está necessitando urgente de uma manutenção, pois fazem quase dois anos que não recebe nenhum tipo de pinçagem ou poda.

Esse Shimpaku é proveniente de um enxerto realizado sobre o Juniperus Sueco, acredito que em 2007. Juniperus Sueco é o nome que chamamos aqui na Bonsai do Campo essa espécie de Juniperus. Já haviam me comentado que a espécie seria um “formosana” ou até mesmo um “communis”. Seu aspecto, entretanto, não se aproxima muito da descrição dessas duas espécies. Na realidade, acho que o Sueco surgiu da degeneração do Juniperus “Kaizuka”, no qual suas folhas do tipo escama se transformaram em aciculares. É uma espécie muito comum no Brasil e seu crescimento é bem rápido, sendo este o principal motivo pelo qual é um dos escolhidos como cavalo para o enxerto de Shimpaku.

Ele foi trabalhado pela primeira vez em 2012 e, no ano seguinte, foi plantado nessa pedra. Não me lembro exatamente de onde ela veio,mas já esta aí há mais de 4 anos. Tem gente que gosta muito dessa composição e tem gente que simplesmente a detesta, mas isso não vem ao caso. O importante para se comentar é que a saliência da pedra não é muito grande e já se vão 4 anos sem a realização de nenhum transplante. Outro detalhe importante é que essa árvore foi aramada somente uma vez em 2013. As intervenções posteriores foram a retirada do arame e e algumas pinçagens estéticas esporádicas.

A adubação utilizada durante este período foi apenas química com Osmocote Plus (15:09:12 com micronutrientes) a cada 3 ou 4 meses. Como pode-se observar, o resultado foi muito bom e a planta se apresenta com um aspecto saudável e com um crescimento vigoroso.

Para mim, o melhor desempenho da árvore é após o segundo ano de transplante, quando seu crescimento já esta mais estável e balanceado. No primeiro ano, o crescimento é sempre meio descontrolado e às vezes meio falho em algumas espécies, mas a partir do segundo ano você pode contar com uma boa estabilidade e as respostas aos procedimentos são mais satisfatórias.

Chamamos de pinçagem as podas superficiais realizadas principalmente com a finalidade estética, seja para manter a forma da árvore como um todo, seja para aumentar e densificar sua ramificação.

No Shimpaku não é diferente. Como podemos observar nas fotos, seus galhos formados em patamares estão muito densos e com um volume muito grande, o que faz com que a planta perca sua forma original. A pinçagem nos Juniperus em geral deve ser realizada com uma tesoura de ponta fina bem afiada e não apenas com os dedos, como é citado em algumas literaturas.

Tanto para a pinçagem básica de manutenção estética quanto para a pinçagem profunda, devemos sempre utilizar a tesoura. Seguramos a extremidade do broto saliente com os dedos e o cortamos próximo a sua base, mantendo a integridade das folhas que estão ao seu redor. Essa é a forma correta, e mesmo que aparentemente surjam pequenas falhas, estas serão preenchidas com o primeiro crescimento da planta. Utilizando apenas os dedos, danificamos muito a extremidade das folhas, o que prejudicará seu crescimento posterior e deixará o galho com um aspecto de queimado.

Utilizaremos a ponta dos dedos para fazer apenas um acabamento, eliminando alguns pequenos brotos que estejam influenciando no desenho e na estética do galho. Nas fotos acima vemos o exemplo desse acabamento e o galho com a pinçagem estética finalizada. Essa é o tipo de intervenção que faríamos por exemplo, para prepararmos o bonsai para uma exposição ou simplesmente para mantê-lo bonito em nossa bancada. Se a planta estiver crescendo com vigor, esse tipo de pinçagem deverá ser feita praticamente todos os anos durante o outono ou o inverno, para que, quando chegue a primavera, o galho tenha melhores possibilidades de brotar por igual.

No caso desse Juniperus em questão, uma pinçagem superficial não seria o suficiente, pois a falta de pinçagens anteriores fez com que os galhos se tornassem muito densos e “altos”. A simples pinçagem não resolveria o problema de espaço entre os galhos, fator imprescindível para a ventilação e a entrada de sol. As partes sobrepostas e abafadas da folhagem começariam a enfraquecer até secar por completo.

Nessas condições poderíamos ter duas alternativas:

  • A primeira seria realizar uma limpeza no interior do galho e uma poda com o intuito de prepará-lo para receber uma nova aramação. Seria um procedimento diferente do que realizaremos na pinçagem profunda, pois o objetivo não é esse, ou seja, não pretendemos aramar a árvore esse ano.
  • A segunda seria a pinçagem profunda, raleando o galho por igual e diminuindo ao máximo sua altura. Dessa forma atingiríamos nosso objetivo de prorrogarmos a nova aramação por mais um ano ou dois e propiciaríamos uma boa ventilação e a entrada do sol, o que estimularia o crescimento de novos brotos no interior do galho.

Nas fotos acima pode-se observar nitidamente a diferença entre a pinçagem estética ou de manutenção e a pinçagem profunda. Note que a após ser realizada a pinçagem profunda, a densidade nas diferentes partes do galho deverá ser praticamente a mesma. Isso facilitará uma brotação por igual.

Essa sequência de fotos mostra a continuação do processo de pinçagem em outro galho. O procedimento é o mesmo, sempre utilizando a tesoura de ponta fina e prestando a atenção no local onde os brotos e pequenos galhos serão cortados.

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Um Shimpaku quando “bem cultivado” não apresenta distinção de brotação e crescimento entre as diferentes partes da planta, ou seja, ele brota por igual. Nesse caso podemos proceder com a pinçagem profunda também com mesma intensidade independentemente se é a copa ou se são os galhos mais baixos da árvore. Não é como o pinheiro negro, que temos que fazer a poda com intensidades diferentes dependendo se trabalhamos na copa ou nos galhos baixeiros da árvore.

As fotos mostram o trabalho já concluído e a árvore em diferentes posições, pode-se observar melhor a linha do tronco e a disposição dos galhos. A planta perdeu mais de 50% de massa verde, mas mesmo assim será colocada diretamente no sol. O Shimpaku é muito resistente e precisa de sol direto para mostrar todo seu esplendor. Existem quatro coisas que o Shimpaku não tolera; ambiente interno, regiões com clima muito quente, ausência de sol direto e falta de água. É uma das coníferas mais resistentes dentre as espécies tradicionais utilizadas no cultivo do Bonsai.

Comparativo do “antes” e “depois” da técnica da pinçagem profunda aplicada em toda a árvore.

A próxima etapa do trabalho agora será inspecionar a madeira morta e verificar se não há pontos de podridão. Fazer uma boa limpeza, ajustar a linha da parte viva da casca (veio), se for necessário e aplicar a calda sulfocálcica. Ao contrário do que muitos pensam, o uso da calda sulfocálcica não é meramente estético e com a finalidade de branquear a madeira. Deve ser usada de duas a três vezes por ano como agente preventivo e curativo para eventuais fungos que ajudam na deterioração da madeira.

O transplante da árvore será realizado durante o inverno, antes do início da primavera.

Só para lembrar…

A poda das coníferas em geral deve ser realizada sempre com a ponta da tesoura, cortando apenas a base do galho que queremos eliminar e não as folhas que estão a sua volta. Nas fotos acima, vemos a poda em um Shimpaku, onde primeiramente selecionamos o galho que queremos eliminar, verificamos a altura que queremos cortar e então realizamos o corte.

A foto acima mostra o efeito do corte das folhas do Juniperus com a tesoura. Com o tempo as extremidades acabam secando e ficando com um aspecto de queimado. Isso ocorre em todas as coníferas e além de prejudicar a estética da árvore, prejudica também o surgimento da nova brotação. Isso ocorre também quando fazemos a sucessiva pinçagem com os dedos para tentar acertar o desenho de um galho.

Carlos Tramujas

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