Bonsai de Pitanga (formação)

Bonsai a partir de sementes (cultivo no pote)

Quando falamos de Bonsai, costumamos descartar a possibilidade de iniciarmos novas árvores a partir de sementes. Isso esta associado diretamente ao tempo e ao longo caminho que imaginamos que iremos percorrer até atingirmos um resultado satisfatório.
Não podemos deixar de levar em conta que o tempo é apenas um dos pontos do processo de elaboração do bonsai e que se esse “tempo” não for associado a técnicas elaborados e a um bom cultivo ele servirá apenas para marcar a idade da árvore. Cada vez mais já não se menciona mais a idade que a árvore tem, mas sim o tempo que vem sendo trabalhada pelo artista e o que faz realmente diferença nos bonsai de qualidade que vemos ao redor do mundo são as técnicas que são aplicadas com maestria ao longo desses anos.

Na Bonsai do Campo produzimos varias espécies a partir de sementes, principalmente as da família das Myrtaceaes, sendo que um dos principais motivos é a dificuldade de serem enraizadas pelo método tradicional que é reprodução por estacas. São espécies bem populares entre nossas nativas, tais como, Pitanga, Cambuí, Jabuticaba, Uvaia, Cereja silvestre, Cereja do Rio Grande, entre outras tantas e que conferem uma caráter cada vez mais “nacional” ao nosso Bonsai.

Quando os frutos das Myrtaceaes em geral são colhidos frescos como as Pitangas acima, devem ser despolpados e lavados. O melhor é que sejam semeados a seguir, porém, podem também ser deixados para secar sobre um jornal na sombra e depois guardados na parte mais baixa do refrigerador por um período de tempo não muito longo.

A maneira mais simples para semearmos praticamente todos os tipos de sementes é utilizando uma bandeja rasa e que deverá ter vários orifícios de drenagem no fundo. A seguir colocamos uma camada de pedrisco mais grosso para facilitar o escoamento do excesso de água e completamos com areia preferencialmente lavada. Fazemos os sulcos com uma profundidade de 1 cm mais ou menos, colocamos as sementes, cobrimos e regamos.

O tempo de germinação varia conforme a espécie podendo levar de poucos dias até quase um ano no caso de algumas coníferas. Na terceira foto acima podemos observar que os Pinheiros negros germinaram praticamente no mesmo tempo que as Pitangas, ou seja, vinte a trinta dias após a semeadura. Após alguns meses, as plantas devem ser retiradas com cuidado, evitando danificar as raízes mais finas. Nesse caso a semeadura foi feita no final da primavera e as plantas foram retiradas da bandeja em meados do outono.

Nas fotos acima podemos ver a primeira poda de raízes das novas plantas. Uma fase importante, pois nesse momento devemos cortar a raiz pivotante ou as mais grossas, deixando apenas as raízes mais finas. Dessa forma tentamos promover o equilíbrio do crescimento das raízes mais finas que no futuro nos ajudaram a formar um “Nebari” mais proporcional e bem distribuído. Essa poda de raízes é imprescindível que se faça principalmente nas árvores com raízes pivotantes, como por exemplo na Pitanga, Jabuticaba e Cereja do Rio Grande.

Após o preparo das raízes plantamos a pequena muda em um pote pequeno com um substrato com boa drenagem, o que ajudará as novas raízes a se desenvolverem por igual. Um ambiente a meia sombra e regas controladas irão garantir o seu pegamento.
Na terceira foto acima podemos ver o desenvolvimento da nossa muda quase 3 anos após a semeadura. Durante esse período ela foi colocada em um pote maior e vem recebendo cuidados e podas periódicas para promover uma melhor ramificação.
Quando cultivamos plantas em pequenos potes para a formação de pré-bonsai e bonsai temos um incremento muito pequeno no engrossamento do tronco, mas por outro lado com um crescimento mais controlado, conseguimos uma ramificação muito mais fina e equilibrada.

Nas fotos acima vemos que a diferença que separa nossas duas plantas são apenas 5 ou 6 anos de cultivo. Esse bonsai de Pitanga com um tronco de 1,5 cm de diâmetro e 25 cm de altura foi trabalhado somente com podas, sendo que a inspiração principal foi a naturalidade das pitangueiras da natureza.

Bonsai a partir de sementes (cultivo no campo)

A seguir vamos detalhar partes do processo de formação de um Bonsai de Pitanga a partir de um material coletado diretamente do campo e com aproximadamente 1 metro de altura.
Partimos do processo detalhado anteriormente só que nesse caso a planta após já ter um bom pegamento e uma boa ramificação no pote (foto 2), é plantada diretamente no campo com o intuito de conseguirmos um maior incremento no diâmetro do tronco em um menor período de tempo possível. Na foto 3 podemos ver a planta recém arrancada apenas com o torrão enrolado na estopa. Essa árvore permaneceu no chão por um período aproximado de 4 anos sendo podada periodicamente na tentativa também de aumentarmos sua ramificação. Se a tivéssemos deixado crescer livre e sem podas, com certeza seu tronco teria mais do que o dobro do diâmetro atual.

Nas fotos acima vemos o processo da retirada gradativa da terra com um gancho de metal específico para essa finalidade. Esse processo deverá ser realizado com cuidado para não ferirmos o tronco e as raízes da árvore e sempre fazendo o movimento com o gancho do centro para fora do terrão. Neste caso retiramos toda a terra, e uma das garantias para obtermos sucesso foi a escolha da época mais apropriada, ou seja, o início da primavera.

Na primeira foto podemos ver todo o sistema radicular sendo que é importante observarmos o seu crescimento circular em volta do tronco. Isso é característico de plantas que foram cultivadas durante um bom período de tempo em potes e que também apresentam um desenvolvimento proporcional da maioria das raízes. Esse fato se deve à poda da raiz pivotante quando da retirada da muda da sementeira. Se não tivéssemos realizado esse processo teríamos uma raiz principal (pivotante) muito mais grossa e profunda e uma menor presença de raízes finas e secundárias. Nas demais fotos vemos o inicio da poda seletiva de raízes onde buscamos remover as raízes defeituosas e mal posicionadas já pensando em um futuro nebari para o bonsai.

Nas fotos acima podemos ver em diferentes ângulos o trabalho de poda de raízes concluído. Esse seria o tipo de poda padrão para muitas espécies, onde removeríamos as raízes superiores ao nível imaginário do novo plantio, reduzindo o conjunto como um todo para que coubesse em um pote ou em um vaso. Importante frisar que essa poda sempre deverá ser realizada deixando-se uma quantidade suficiente de raízes para não colocar a árvore em risco.

Nessa fase do processo manteremos as raízes envolvidas em um pano úmido para evitarmos sua desidratação e realizaremos uma poda inicial de seleção de galhos utilizando a tesoura de poda e o alicate concavo. Eliminaremos nesse momento os galhos paralelos, aqueles que se cruzam e outros que não nos agradem esteticamente para formação da nova copa da árvore. Promoveríamos agora o plantio que poderia ser em um pote de pré-bonsai ou em um vaso. Nossa opção foi plantá-la diretamente em um vaso de bonsai utilizando um substrato adequado.

Na primeira foto superior vemos nossa árvore recém plantada, a qual foi colocada em uma área sombreada por aproximadamente trinta dias. Importante também nesse período controlarmos a rega para evitarmos que o substrato permaneça constantemente encharcado. Na segunda foto aproximadamente 40 dias depois já observamos o inicio da nova brotação e a partir desse momento já poderemos colocar nossa árvore gradativamente exposta ao sol.

Logo acima podemos ver a árvore brotada no final do outono, ou seja, 8 ou 9 meses depois do plantio no vaso. Essa primeira brotação é muito importante que se deixe crescer livre, principalmente para árvores que tem poucas raízes ou que estão indo para o vaso pela primeira vez. O motivo principal é que essa brotação estimule a formação de um bom sistema radicular como podemos ver na segunda foto. A partir desses momento podemos então começar com as podas e modelagens do bonsai com mais segurança e sabendo que a árvore terá uma boa estrutura radicular para que possa responder com vigor aos procedimentos aplicados.

Nessa ultima foto do trabalho, podemos observar o bonsai de Pitanga com 40 cm de altura em formação. Importante deixar claro que esse é apenas o inicio da caminhada para obtermos um bonsai com mais qualidade. Nesse momento o vaso parece ser muito profundo, o tronco parece ser muito alto e a copa parece ser muito pequena. Mas o importante é não pararmos o nosso processo de criação que deve estar constantemente em evolução.

Bonsai de Pitanga a partir de semente com aproximadamente 60 cm de altura e com pelo menos 10 anos de trabalho após ser retirado do chão. O tempo não para e as técnicas devem evoluir sempre para que possamos amadurecer com sabedoria juntamente com nossos bonsai.

Carlos Tramujas

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