Modelagem de uma conífera

Pontos importantes no trabalho com Coníferas

O trabalho apresentado a seguir é relativamente antigo e ocorreu entre os anos de 2000 e 2006, porém é a primeira vez que esta sendo publicado. É referente a formação de um bonsai a partir de um pré-bonsai bruto de Chamaecyparis, o qual foi selecionado no inverno do ano 2000. O Chamaecyparis obtusa var. ‘nana gracilis’ sempre foi uma excelente espécie de conífera para ser trabalhada como bonsai e é conhecido popularmente no Brasil como “Cedro nana”. No Japão recebe o nome de “Hinoki”.

Exemplar de Cedro nana trabalhado na Bonsai do Campo em 2017.

Até um certo tempo os Cedros nana eram facilmente encontrados como pequenos bonsai comerciais em muitos Gardens e Floriculturas, mas atualmente, cada vez mais deixam de ser comercializados devido há um problema que surgiu anos atrás e que resulta no secamento gradativo dos galhos. Esse problema é causado por um fungo que é inoculado por um Coleóptero e costuma ocorrer na maioria dos casos em árvores mais velhas. Esse fungo atacou não somente o Cedro nana, mas diversas outras especies de coníferas espalhadas por varias regiões do mundo.

A dificuldade no tratamento e a “caída de moda” da maioria das coníferas utilizadas em paisagismo fez com que os grandes viveiros de ornamentais praticamente deixassem de produzir esta espécie.
E assim, uma das coníferas mais tradicional, mais bonita e de crescimento mais lento quase que desapareceu do mercado de plantas por completo.

Chamaecyparis obtusa “nana gracilis”
Exemplar coleção Carlos Tramujas de 1995.

O intuito de publicar esse artigo nos dias de hoje é; em primeiro lugar para relembrar a beleza de uma das minhas espécies preferidas, e segundo lugar porque a metodologia deste trabalho pode ser aplicada na maioria das espécies.

Uma das característica importante da grande maioria das coníferas e que deve ser levado em conta no momento da escolha do material, é que estas, costumam não emitir novos brotos nas partes internas dos galhos e no tronco, ou seja, a partir da madeira velha.
Este fator é muito importante no momento da escolha, pois teremos que orientar o nosso trabalho sabendo que não conseguiremos obter uma nova brotação nesses locais e que deveremos aproveitar ao máximo as possibilidades que a planta oferece.

O primeiro passo do processo de formação desse “Cedro nana” foi a eliminação da massa verde da parte superior, onde foram deixados apenas os dois galhos laterais e opostos como podemos ver nas fotos. Um galho na parte traseira da árvore também foi poupado e o mesmo será utilizado como um galho de fundo para dar profundidade ao nosso bonsai, mas que na foto não pode ser observado com clareza.

Cedro nana com 10 anos de idade e medindo 45 cm.
Aspecto da árvore após o corte da parte superior.

A exemplo de muitas outras coníferas, nesta espécie em particular, podemos utilizar com excelentes resultados as técnicas de Shari e Jin, elementos estes encontrados com muita facilidade nos antigos exemplares existentes na natureza. Conseguimos desta forma em um curto espaço de tempo transferir para o bonsai o caráter destas velhas árvores. A escolha desta muda em particular se baseou na boa ramificação dos galhos, na presença de muitos brotos na sua parte interna e próximos ao tronco e no próprio tronco que apresentava uma boa conicidade.

Poda do ápice da árvore.
Realização do Jin na parte superior.
Aparência do Shari encontrando o Jin.

Quando iniciei o trabalho nesta árvore a ideia básica foi trabalhar apenas com estes dois galhos, ou seja, deixar o galho da direita como um primeiro galho e levantar o da esquerda radicalmente para com ele formar não apenas o segundo galho, mas toda a copa da árvore. Este é um processo muito utilizado quando desejamos diminuir a altura da planta e o movimento do tronco nos permite realizar esta operação.

Bonsai apenas seis meses após a primeira modelagem.
Detalhe do no galho utilizado para novo ápice.

Aspecto da árvore aproximadamente seis anos depois de iniciado o trabalho. Podemos observar a boa densidade da copa, resultado do excelente cultivo nos últimos anos.
Realizamos agora processo de pinçagem e aramação onde foi escolhida uma nova frente para o bonsai, sendo que desta forma aproveitaremos melhor o movimento do tronco e destacaremos melhor o nebari da árvore.

Outro fator que propicia esta linha de trabalho é a posição do primeiro galho, que não pode ser muito alto em relação a planta como um todo. Pouco a pouco a árvore vai assumindo a forma idealizada no inicio do trabalho.

Planta antes do inicio do trabalho.
Aparência da árvore apenas seis anos depois.

Na foto abaixo, podemos apreciar o resultado final da modelagem, onde a sequência do trabalho iniciou-se com uma detalhada limpeza da madeira morta e da parte viva do tronco visando destacar ainda mais a bonita coloração avermelhada característica desta espécie. O trabalho de pinçagem e aramação foram realizados da maneira convencional, ou seja, de baixo para cima, buscando a melhor triangulação possível para a árvore.
O primeiro galho foi trabalhado em níveis para reforçar a estabilidade do tronco e melhorar sua proporção. Posteriormente será plantada em um vaso redondo ou oval, na cor marrom ou cinza escuro.

Aspecto final do trabalho, com a árvore na posição correta para o novo plantio.

Texto e fotos: Carlos Tramujas

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