O trabalho apresentado a seguir é relativamente antigo e ocorreu entre os anos de 2000 e 2006, porém é a primeira vez que esta sendo publicado. É referente a formação de um bonsai a partir de um pré-bonsai bruto de Chamaecyparis, o qual foi selecionado no inverno do ano 2000. O Chamaecyparis obtusa var. ‘nana gracilis’ sempre foi uma excelente espécie de conífera para ser trabalhada como bonsai e é conhecido popularmente no Brasil como “Cedro nana”. No Japão recebe o nome de “Hinoki”.
Até um certo tempo os Cedros nana eram facilmente encontrados como pequenos bonsai comerciais em muitos Gardens e Floriculturas, mas atualmente, cada vez mais deixam de ser comercializados devido há um problema que surgiu anos atrás e que resulta no secamento gradativo dos galhos. Esse problema é causado por um fungo que é inoculado por um Coleóptero e costuma ocorrer na maioria dos casos em árvores mais velhas. Esse fungo atacou não somente o Cedro nana, mas diversas outras especies de coníferas espalhadas por varias regiões do mundo.
A dificuldade no tratamento e a “caída de moda” da maioria das coníferas utilizadas em paisagismo fez com que os grandes viveiros de ornamentais praticamente deixassem de produzir esta espécie.
E assim, uma das coníferas mais tradicional, mais bonita e de crescimento mais lento quase que desapareceu do mercado de plantas por completo.
O intuito de publicar esse artigo nos dias de hoje é; em primeiro lugar para relembrar a beleza de uma das minhas espécies preferidas, e segundo lugar porque a metodologia deste trabalho pode ser aplicada na maioria das espécies.
Uma das característica importante da grande maioria das coníferas e que deve ser levado em conta no momento da escolha do material, é que estas, costumam não emitir novos brotos nas partes internas dos galhos e no tronco, ou seja, a partir da madeira velha.
Este fator é muito importante no momento da escolha, pois teremos que orientar o nosso trabalho sabendo que não conseguiremos obter uma nova brotação nesses locais e que deveremos aproveitar ao máximo as possibilidades que a planta oferece.
O primeiro passo do processo de formação desse “Cedro nana” foi a eliminação da massa verde da parte superior, onde foram deixados apenas os dois galhos laterais e opostos como podemos ver nas fotos. Um galho na parte traseira da árvore também foi poupado e o mesmo será utilizado como um galho de fundo para dar profundidade ao nosso bonsai, mas que na foto não pode ser observado com clareza.
A exemplo de muitas outras coníferas, nesta espécie em particular, podemos utilizar com excelentes resultados as técnicas de Shari e Jin, elementos estes encontrados com muita facilidade nos antigos exemplares existentes na natureza. Conseguimos desta forma em um curto espaço de tempo transferir para o bonsai o caráter destas velhas árvores. A escolha desta muda em particular se baseou na boa ramificação dos galhos, na presença de muitos brotos na sua parte interna e próximos ao tronco e no próprio tronco que apresentava uma boa conicidade.
Quando iniciei o trabalho nesta árvore a ideia básica foi trabalhar apenas com estes dois galhos, ou seja, deixar o galho da direita como um primeiro galho e levantar o da esquerda radicalmente para com ele formar não apenas o segundo galho, mas toda a copa da árvore. Este é um processo muito utilizado quando desejamos diminuir a altura da planta e o movimento do tronco nos permite realizar esta operação.
Aspecto da árvore aproximadamente seis anos depois de iniciado o trabalho. Podemos observar a boa densidade da copa, resultado do excelente cultivo nos últimos anos.
Realizamos agora processo de pinçagem e aramação onde foi escolhida uma nova frente para o bonsai, sendo que desta forma aproveitaremos melhor o movimento do tronco e destacaremos melhor o nebari da árvore.
Outro fator que propicia esta linha de trabalho é a posição do primeiro galho, que não pode ser muito alto em relação a planta como um todo. Pouco a pouco a árvore vai assumindo a forma idealizada no inicio do trabalho.
Na foto abaixo, podemos apreciar o resultado final da modelagem, onde a sequência do trabalho iniciou-se com uma detalhada limpeza da madeira morta e da parte viva do tronco visando destacar ainda mais a bonita coloração avermelhada característica desta espécie. O trabalho de pinçagem e aramação foram realizados da maneira convencional, ou seja, de baixo para cima, buscando a melhor triangulação possível para a árvore.
O primeiro galho foi trabalhado em níveis para reforçar a estabilidade do tronco e melhorar sua proporção. Posteriormente será plantada em um vaso redondo ou oval, na cor marrom ou cinza escuro.
Texto e fotos: Carlos Tramujas