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Serissa Neagari (raízes expostas)

Da série Bonsai básico

O estilo Neagari ou Raízes Expostas exerce um forte fascínio na maioria dos entusiastas do bonsai, talvez porque nos remeta a situações difíceis e desafiantes na natureza, onde a árvore luta constantemente por sua estabilidade e sobrevivência.
Neste caso em particular, realizaremos o trabalho com um pré-bonsai de Serissa aqui da Bonsai do Campo.
A escolha da Serissa não é aleatória, pois esta espécie em particular apresenta as principais características para a formação de árvores neste estilo, ou seja, possui um sistema radicular vigoroso formando raízes grossas, sinuosas e retorcidas num curto período de tempo.
Essa grande massa de raízes é fundamental para que possamos criar a sensação de estabilidade no bonsai. Jamais devemos pensar em trabalhar árvores neste estilo que não apresentem tais características, pois correríamos o risco de obtermos no final do trabalho um bonsai instável e com um aspecto visual de estar quase caindo do vaso por não conseguir se sustentar sobre poucas e finas raízes. Quando trabalhamos neste estilo, é importante lembrar que no momento em que expomos as raízes, elas passam a fazer parte do tronco da árvore, isso quer dizer que as proporções buscadas para a realização do desenho do bonsai deverão estar baseadas no conjunto formado pelo tronco e também pelas raízes expostas.

Pré-bonsai de Serissa phoetida escolhida para a realização do trabalho. A muda mede aproximadamente 75 cm de altura, incluindo o pote, e iniciamos o trabalho reduzindo a parte área em 50% apenas para facilitar o seu manuseio.

Retiramos a terra pouco a pouco e sempre de cima para baixo, para desta forma expormos gradativamente as raízes e com a ponta da tesoura vamos eliminando pouco a pouco apenas as raízes mais finas, mantendo as mais grossas intactas. Com o Hashi de bambu continuamos a retirar gradativamente a terra evitando ao máximo danificar as raízes mais grossas.

Em pouco tempo já podemos visualizar o bonito sistema radicular, resultado do trabalho de limpeza e poda. Com as raízes expostas, reduzimos proporcionalmente a copa da árvore de acordo com a altura do tronco.

As raízes foram lavadas, sendo que as mais grossas podemos imaginá-las como parte do novo tronco. No momento do plantio é importante utilizarmos o Hashi (palito de bambu) para fazermos a terra penetrar por entre as raízes. Esta primeira etapa do trabalho está terminada, e agora teremos os mesmos cuidados que para qualquer bonsai recém transplantado. A amarração no vaso neste momento é essencial para garantirmos um bom enraizamento inicial.

Na primeira foto acima podemos ver a Serissa logo após o termino do plantio. A segunda foto mostra a forte brotação apenas três meses depois de iniciado o trabalho. Com a Serissa recém transplantada, se inicia o projeto de um novo bonsai. O resultado somente irá aparecer com o tempo e com os devidos cuidados no cultivo.

Três pontos foram fundamentais para a escolha desta muda de Serissa no meio de outras tantas. O primeiro foi a boa ramificação, ou seja, a presença de galhos mais grossos e bem distribuídos em todas as direções; o segundo ponto foi o bonito movimento do tronco e altura, e o terceiro, foram as raízes superficiais que davam o indício de serem grossas, abundantes e bem distribuídas ao redor do tronco.

Com o passar do tempo as raízes assumiram as características do tronco, formando o mesmo tipo de casca e apresentando uma mesma coloração, a qual no início poderá ser bem diferente. A copa da nossa árvore será formada apenas através de podas sucessivas, que no caso das Serissas são plenamente satisfatórias para copas densas e compactas.


Normalmente nas plantas com folhas perenes e pequenas podemos realizar as podas sem nos preocupar se vamos cortar as folhas ou não. O importante é utilizar tesouras bem afiadas e que não mastiguem os pequenos brotos

Como as folhas são pequenas, os cortes acabam se tornando imperceptíveis e com o passar do tempo a planta termina por eliminar as folhas danificadas durante a poda. No caso de plantas com folhas maiores como é o caso dos Ficus ou até mesmo das Jabuticabas, a poda deverá sempre ser feita nos entrenós, evitando cortar as folhas para não deixarmos o bonsai com um aspecto feio e descuidado.

Terminando a poda, podemos perceber nitidamente o delineamento da nova copa da árvore. Na primeira poda eliminamos todos os brotos que ultrapassem a linha imaginária da silhueta da nova copa que queremos formar. O trabalho inicial foi realizado no melhor momento possível, ou seja, no princípio da primavera e o resultado obtido apenas três meses depois foi excelente. Quando fazemos uma operação de poda e transplante, devemos sempre deixar a planta crescer livre por um certo período, visando estimular a formação de novas raízes, e somente então, realizamos a primeira poda. A copa neste caso começa a apresentar um aspecto denso e compacto, que é o objetivo pretendido na formação desse bonsai.

Aspecto da nossa Serissa após a realização da terceira poda. A copa está se tornando cada vez mais densa e ramificada.

Como o processo foi realizado na primavera, aproximadamente trinta dias depois, já iniciamos a adubação, que neste caso foi feita com um adubo químico de liberação lenta (Osmocote). É importante lembrar que os substratos utilizados para bonsai garantem uma boa drenagem, o que é fundamental para um bom desenvolvimento das raízes, só que por outro lado, facilitam também a eliminação de nutrientes. As adubações periódicas são essenciais para que se obtenha um bom resultado, como o que conseguimos no caso desta Serissa. Se não tivéssemos adubado corretamente, é muito possível que o crescimento dos brotos tivesse sido até 50% menos do que conseguimos em apenas três meses. Um ponto também muito importante a ser colocado, é que este é apenas o início do trabalho, e que somente conseguiremos um maior amadurecimento do bonsai através de inúmeras podas ao longo dos anos de cultivo que se seguirão. Este é um exemplo típico de que o tempo é o nosso maior aliado, pois é somente através dele que conseguiremos alcançar os nossos objetivos. Na foto abaixo podemos ver o alto nível de compactação da copa conseguido em apenas alguns meses de cultivo.

Detalhes das raízes, onde podemos perceber que estas agora já fazem parte do tronco da árvore e que estão bem distribuídas e proporcionam um aspecto de estabilidade e de firmeza ao bonsai. Na segunda foto podemos ver o detalhe da brotação exuberante da Serissa com suas pequenas flores brancas.